No início deste ano, um conjunto de medidas publicadas pelo Ministério da Saúde e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para estimular o parto normal e, consequentemente, diminuir as cesarianas eletivas no país, deu o que falar. A medida tem com base os altos índices de partos cesáreos no Brasil, que, de acordo com o Ministério da Saúde, chega a atingir 84% no setor privado e 40% na rede pública. A recomendação geral da OMS (Organização Mundial da Saúde) é de 15%.
O número de cesarianas na Região Central também chama a atenção. Conforme dados da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS), que abrange 32 municípios, incluindo Santa Maria, a média nos hospitais (públicos e privados) da região nos últimos cinco anos é de 64%. Na cidade, o índice gira em torno de 66%, número bem acima da recomendação (veja gráficos abaixo).
E para tentar conter as altas taxas de cesarianas, o grupo Nascer Sorrindo SM, em atividade desde 2012, trabalha para elevar os índices de partos normais na cidade, buscando levar informações da rede privada e pública para as mulheres, mostrando os serviços oferecidos em Santa Maria com base em evidências científicas na área da obstetrícia.
_ Isso ajuda as mulheres a saberem o que vão encontrar e o que podem solicitar ao médico. O grupo tem o papel de trocar experiências e orientar para um parto respeitoso e com menos intervenções possíveis. É preciso adequar o sistema para aderir às vontades da mulher, e tanto o SUS quanto os planos de saúde têm de estar preparados para um parto normal cada vez mais humanizado_ diz Lizandra Pimenta, enfermeira obstétrica do Husm, doutoranda em saúde pública pela Fiocruz e integrante do grupo.
Alice Neocatto (à esquerda) e Ravele Goularte (à direita) participam do grupo Nascer Sorrindo SM
A residente em enfermagem obstétrica Tamiris Pugin, atua na Casa de Saúde e, para ela, a informação que a paciente recebe no pré-natal é precária, simplista e básica.
_ Além disso, a experiência que a mãe tem é advinda de outras experiências da mãe, da tia, da vizinha, da madrinha, da avó, da amiga, etc. E esses rituais são reproduzidos ao longo dos anos. São essas coisas que vão passando culturalmente e que fazem vender a cesárea, para a gestante não passar pela violência. Os profissionais da saúde não estão acostumados a serem questionados_ diz.
Para a enfermeira Kelen da Costa Pompeu, a vontade da gestante em ser protagonista do seu momento está fazendo com que as mulheres optem mais pelo parto normal, mas, para ela, encontrar um profissional disposto a atender as escolhas da gestante ainda é difícil.
_ O que vemos é uma peregrinação das mulheres em busca de profissionais que atendam aos seus direitos. Não queremos parto normal a todo custo. Queremos qualidade no pré-natal e no parto também_ argumenta.
A servidora pública Alice Neocatto é mãe de Violeta, de nove meses. Ela conta que precisou trocar de obstetra para que sua escolha pelo parto normal pudesse ser realizada pelo plano de saúde.
_ A obstetra de antes estava me impondo barreiras e forçando o caminho a uma cesárea, além de ter ouvido um pedido de pagamento extra para ser atendida caso eu quisesse ter um parto normal. Acaba sendo um terrorismo, pois a gente fica nervosa. Se a gente não está informada e emponderada, acabamos caindo fácil numa cesárea eletiva_ comenta.
Plano de parto é arma da gestante para garantir suas escolhas
Para tentar garantir que os desejos da gestante sejam realizados, é possível manifestar tais escolhas em um plano de parto. Ele nada mais é do que um documento"